Entendendo a doença
Aproveitamos para transcrever parte de entrevista oferecida para a Revista Internacional de Espiritismo com Dr. Vilson Disposti professor universitário, delegado de polícia e presidente da Casa do Caminho Ave Cristo, em Birigui-SP, que dedica-se há 21 anos na reabilitação de jovens com dependência química, utilizando os recursos da ciência médica e a terapêutica espírita).
RIE - Quais as principais causas que levam uma pessoa a tornar-se um dependente químico?
VILSON - Estudos realizados pela Universidade Federal de São Paulo apontam diversas causas, dentre as quais a mais relevante, inclusive de acordo com as nossas experiências, é aquela em que o jovem busca nas drogas uma tentativa de amenizar seus sentimentos de solidão, medo, insegurança, baixa autoestima, gerados em regra por seus conflitos psicológicos. O Dr. Claude Olieveínstein, renomado psicanalista francês, afirma que "As carências afetivas constituídas na primeira infância acarretam esta falta ou incompletude do ser e a droga vem para completar". No mesmo sentido, a lição magistral de Joanna de Angelis, por Divaldo Franco, conclui que “Estimulado pelo receio de enfrentar dificuldades, ou motivado pela curiosidade decorrente da falta de madureza emocional, inicia-se o jovem no uso de estimulantes, deixando se arrastar desde então indefeso, vencido e infeliz”. Assim, o amor verdadeiro, recomendado por Jesus, continua sendo o grande antídoto dos graves males do espírito viandante a caminho da luz.
RIE - Quais os passos para uma reabilitação segura de uma dependência química?
VILSON- Podemos relacionar aqui alguns princípios e diretrizes, a saber: O tratamento da dependência de drogas nunca é simples, necessita ser voluntário e não imposto, na medida do possível. O diálogo é fundamental, sem acusações ou levantamento de culpas. É muito importante avaliar o grau da dependência para se buscar a terapia mais adequada, porque não existe um tratamento padrão. O tratamento precisa ser profundo, com a participação da família. É fundamental adotar uma "psicoterapia integrada", devendo-se buscar uma equipe interdisciplinar bem treinada. Cabendo aqui destacar que o despertar dos sentimentos de espiritualidade no dependente constitui-se no elemento mais relevante quanto eficaz da psicoterapia.
RIE - Qual sua sugestão para a atuação do movimento espírita nesta área?
VILSON - Com a evangelização espírita das crianças, dos adolescentes e dos jovens, estamos executando o melhor modelo de prevenção indireta às drogas, porque o desenvolvimento da espiritualidade do ser humano vem sendo reconhecida pelos especialistas em prevenção, como fator altamente eficiente. Porém a complexidade do problema está a exigir ações mais diretas e contínuas. Portanto penso que os trabalhadores do nosso movimento poderiam se articular para a realização periódica de Seminários Regionais Antidrogas, com conteúdos multidisciplinares, com a contribuição dos profissionais espíritas da Neurociência, Psiquiatria, Psicologia, Assistentes Sociais e trabalhadores que vêm se especializando no assunto, permitindo o estudo mais aprofundado do problema. Que se venha preparar os trabalhadores dos centros espíritas que são procurados por muitos pais aflitos que pedem orientação e apoio. Especialmente esse tema, para auxiliar com segurança não basta ter boa vontade, é preciso conhecê-lo, o qual vem sendo considerado internacionalmente uma grande violação dos direitos humanos.